Por que sua organização deve fazer o inventário de carbono em 2026: legislação, competitividade e impacto positivo (guia prático)

Em 2026, medir e reportar emissões de gases de efeito estufa (GEE) deixa de ser “nice to have” e passa a ser um diferencial competitivo — e, em muitos casos, um caminho sem volta para atender regulações, grandes clientes e investidores. Este guia sintetiza o cenário regulatório brasileiro, as tendências globais de reporte climático e os passos práticos para você iniciar (ou elevar o nível) do seu inventário corporativo, alinhado ao GHG Protocol e às melhores práticas internacionais.

Contexto-chave:
 O Congresso aprovou em 2024 a regulamentação do mercado de carbono brasileiro, criando o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), com implantação gradual ao longo de seis anos. Isso acelera a precificação de carbono, reforça MRV (monitoramento, relato e verificação) e torna inventários de GEE ainda mais estratégicos para empresas de todos os portes.

Fontes: Câmara dos Deputados; Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

2026: o momento de transformar medição de emissões em vantagem competitiva

Nos últimos dois anos, o Brasil avançou no arcabouço legal do carbono. Com o SBCE aprovado no Congresso e encaminhado para sanção em 2024, a agenda de precificação e metas setoriais entra no radar de compliance e estratégia corporativa. Na prática, isso significa que sua empresa precisará medir com precisão suas emissões para:

  • Cumprir exigências regulatórias de forma faseada (o SBCE terá implantação gradativa);
  • Negociar com mais poder em cadeias de suprimento que já pedem dados e metas de redução;
  • Captar recursos com melhores condições junto a investidores que precificam risco climático.

Além disso, o mercado de capitais brasileiro está alinhando o reporte financeiro de clima às normas internacionais IFRS S1/S2 (ISSB). A B3 anunciou a adoção voluntária antecipada — um sinal claro ao mercado de que riscos e oportunidades climáticas entrarão nas demonstrações financeiras. Empresas que chegarem cedo com dados auditáveis terão credibilidade e acesso a capital.
Fontes: B3; EXAME; Grupo Report.
B3 – anúncio ISSB/IFRS S1 e S2 | EXAME | Grupo Report – Do TCFD ao IFRS S2

O que é o inventário de carbono e por que ele é a base de tudo

inventário de GEE é o “raio-X” das emissões da empresa e segue, majoritariamente, o GHG Protocol — padrão reconhecido globalmente e adotado no Brasil pelo Programa Brasileiro GHG Protocol. Ele classifica as emissões em:

  • Escopo 1 (diretas): combustão em caldeiras e frota própria, processos e emissões fugitivas (ex.: refrigerantes).
  • Escopo 2 (indiretas – energia): emissões associadas à eletricidade adquirida (location-based e market-based).
  • Escopo 3 (indiretas – cadeia de valor): compras de bens e serviços, transporte contratado, viagens, uso do produto, fim de vida, entre outras categorias upstream e downstream.

Medir os três escopos é o que permite definir metas robustas, comparáveis e auditáveis — e conquistar, por exemplo, o “Selo Ouro” no registro público do Programa Brasileiro GHG Protocol (exige coberturas completas e verificação de terceira parte). Em 2024, o número de inventários com Selo Ouro cresceu, refletindo a pressão de mercado e a iminência de regras de carbono.

Fontes: WRI Brasil; Valor Econômico.
WRI Brasil – GHG Protocol e escopos | Valor – Selo Ouro em alta

Legislação e direções regulatórias no Brasil: o que muda para sua empresa

  • Mercado regulado de carbono (SBCE): o projeto aprovado em 2024 estipula mercado regulado e voluntário, metas graduais e MRV robusto. A implantação será progressiva ao longo de seis anos, o que exige histórico de dados confiáveis desde já.
    Fontes: Câmara dos Deputados; MDIC.
    Câmara – aprovação | MDIC
  • Movimentos subnacionais: Estados como São Paulo (CETESB) vêm tornando obrigatório o envio de inventários por setores específicos, mesmo abaixo de 20 mil tCO₂e/ano, ampliando o escopo de reporte.
    Fonte: CETESB (decisão de diretoria e análises setoriais).
    Análise – obrigatoriedade SP
  • Mercado de capitais e reporte climático: o Brasil foi dos primeiros a internalizar as normas IFRS S1/S2 via CVM, com adoção voluntária antes da obrigatoriedade. Empresas líderes, como a B3, aceleram o movimento, e investidores passam a exigir qualidade e integração financeira dos dados climáticos.
    Fontes: B3; EXAME.
    B3 – adoção antecipada | EXAME

Clientes, talentos e capital: por que o inventário atrai e retém valor

  1. Grandes players exigem dados e metas: multinacionais em setores como tecnologia, automotivo, alimentos & bebidas e varejo demandam inventários completos e metas SBTi de fornecedores. Quem mede, comprova e reduz emissões permanece elegível nas cadeias globais.
    Fontes: Pacto Global (SBTi); análises de mercado.
    Pacto Global – SBTi no Brasil
  2. Reputação e atração de talentos: profissionais qualificados procuram empresas com propósito real, transparência e impacto. Relatos alinhados a TCFD/IFRS S2 e inventários com verificação independente elevam a confiança de colaboradores e do mercado.
    Fontes: Grupo Report; B3.
    Do TCFD ao IFRS S2 | B3 – ISSB/IFRS
  3. Acesso a capital e menor custo de risco: bancos e investidores incorporam risco de transição e físico em decisões. Inventários confiáveis e planos de transição claros ampliam elegibilidade a finanças sustentáveis e melhoram condições de crédito.
    Fontes: B3; EXAME.
    B3 – anúncio | EXAME

Impacto positivo e liderança: deixar exemplo e preparar o futuro

Inventariar emissões é gestão, não apenas compliance. Com dados em mãos, sua empresa define alavancas de redução (eficiência, eletrificação, renováveis, redesign de produtos, logística verde, circularidade) e orienta investimentos com retorno e redução de risco. Ao publicar resultados e metas, você inspira parceiros, clientes e concorrentes — e deixa um legado de sustentabilidade corporativa.

Para contextualizar a estratégia com a realidade brasileira (setores e territórios), use dados públicos como o SEEG, que apresenta séries históricas de emissões por setor, estado e município. Isso ajuda a priorizar ações e comunicar com credibilidade o impacto da sua jornada.
Fontes: SEEG (Observatório do Clima).
SEEG – Plataforma | SEEG – Sobre

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Passo a passo: como fazer (bem) o inventário de carbono em 2026

Defina governança e limites

  • Nomeie um executivo sponsor e uma equipe multidisciplinar (sustentabilidade/ESG, operações, compras, finanças, jurídico, TI).
  • Escolha a abordagem de limites (equity share ou controle operacional) e documente todas as unidades (plantas, CDs, frota, franquias, JV).

Referência: GHG Protocol – fundamentos de escopos e limites.
WRI Brasil – GHG Protocol

Mapeie fontes e dados (Escopos 1, 2 e 3)

  • Escopo 1: combustíveis (diesel, GLP, gás natural), processos, refrigerantes (HFCs).
  • Escopo 2: energia elétrica (location-based e market-based), contratos no ACL e certificados (ex.: I-RECs).
  • Escopo 3: compras de bens e serviços, transporte terceirizado, viagens, uso do produto, fim de vida, bens de capital etc.

Dica: priorize categorias materiais do Escopo 3 com dados primários de fornecedores e evolua ao longo do tempo (matriz de materialidade climática).
Fontes: WRI Brasil; Anthesis.
WRI – escopos | Anthesis – guia escopos

Aplique fatores de emissão e garanta trilhas de auditoria

  • Use metodologias padronizadas do GHG Protocol e fatores de emissão reconhecidos.
  • Estruture evidências (notas, contratos, faturas, relatórios de consumo, medições), com versionamento e controle de acesso.

Planeje verificação por terceira parte

  • Busque asseguração (limitada, depois razoável) com verificadora acreditada; isso eleva a confiança do mercado e viabiliza o Selo Ouro no Programa Brasileiro GHG Protocol.
    Fonte: Valor Econômico.
    Reportagens sobre Selo Ouro

Conecte inventário a metas e plano de redução

  • Estabeleça metas SBTi (de curto prazo e Net Zero) e priorize reduções reais; use compensação apenas para emissões residuais, conforme boas práticas.
    Fontes: Pacto Global (SBTi); análises recentes sobre créditos.
    Pacto Global – SBTi | ClimaInfo – debate sobre créditos

Estruture relato e integração financeira

  • Alinhe seu relatório climático à estrutura TCFD/IFRS S2 (governança, estratégia, gestão de riscos, métricas e metas, cenários).
  • Integre os impactos materiais de clima à narrativa financeira e prepare-se para as exigências da CVM.
    Fontes: B3; Grupo Report.
    B3 – anúncio | Grupo Report – IFRS S2

Antecipe o SBCE e a conformidade de MRV

  • Mantenha monitoramento regulatório e esteja pronto para reportar quando seu setor/porte for enquadrado. O histórico de dados de 2025–2026 será valioso para a trajetória de conformidade.
    Fontes: Câmara; MDIC.
    Regulamentação aprovada | Nota do MDIC

Perguntas frequentes (FAQ) para quem vai começar já em 2026

“Minha empresa não é grande emissora. Mesmo assim devo inventariar?”
Sim. Além de eventuais exigências estaduais/setoriais (como em SP), cadeias de suprimento e investidores já pedem dados e metas — e o SBCE terá implantação gradual. Quem se adianta reduz riscos e ganha preferência em contratos.
Fontes: CETESB; Câmara/MDIC.
Obrigatoriedade SP | SBCE aprovado no Congresso

“Preciso medir o Escopo 3 logo de início?”
Idealmente, sim para as categorias mais materiais. Muitas empresas iniciam por 1 e 2, mas a tendência (e a exigência de clientes) é cobertura ampla, especialmente para validar SBTi e obter Selo Ouro no Brasil.
Fontes: WRI Brasil; Valor.
GHG Protocol – escopos | Selo Ouro

“Compensação resolve?”
Compensação (créditos) não substitui reduções reais e deve ser reservada a emissões residuais. As melhores práticas e debates recentes reforçam essa prioridade, sobretudo para Escopo 3.
Fontes: Pacto Global (SBTi); ClimaInfo.
SBTi no Brasil | Debate sobre créditos

“Como contextualizar meu plano com a realidade do Brasil?”
Use dados SEEG para entender a trajetória setorial/estadual e cite referências públicas (ex.: fatores da matriz elétrica, tendências regionais). Isso enriquece a análise de materialidade e a comunicação com stakeholders.
Fontes: SEEG.
SEEG – plataforma

Comece agora com um roteiro simples e eficaz

A Sustain Quality pode apoiar você a começar e escalar seu inventário de carbono com metodologia GHG Protocolasseguração independente, metas SBTi e relatos alinhados a TCFD/IFRS S2 — prontos para a jornada regulatória do SBCE.

Roteiro sugerido (90 dias):

  1. Workshop executivo (2h): GHG Protocol, SBCE, IFRS S2 e definição de limites/escopos.
  2. Roteiro de dados: energia, combustíveis, insumos críticos, logística, refrigerantes (com matriz de materialidade climática).
  3. Inventário ano-base 2025 e publicação 2026 com verificação independente e plano de descarbonização priorizado por ROI e risco.
  4. Roadmap SBTi/TCFD/IFRS S2: metas, governança, integração financeira e trilhas de auditoria.

Pronto para dar o primeiro passo? Fale com a Sustain Quality para um diagnóstico inicial e um plano sob medida para seu setor e cadeia de valor.